Lattes

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Por um tratamento equitativo para músicos que viajam de avião com seus instrumentos. FACILITAR AS VIAJENS DE AVIÃO PARA INSTRUMENTISTAS Parece que a repercussão internacional que teve o episódio das greves dos funcionários da alfândega do aeroporto de São Paulo permitiu aos músicos da OSESP recuperarem a tempo seus instrumentos para o concerto de sexta à noite. O Guarnieiri de Yuzuko Horigome (ver íltima carta da AmiRéSol) lhe foi sequestrado em Berlim, apesar das reações da imprensa internacional. Aproveitamos esse episódio para chamar a atenção para esta petição que tem por objetivo pressionar as companhias aéreas a autorisar os passageiros a viajar com seus instrumentos na cabine. Já temos 35.000 assinaturas. São ainda necessárias mais 6.000 assinaturas para que o artigo 261/2004 seja reexaminado pelas instâncias europeias. O link segue abaixo. OBRIGADO POR FAZER CIRCULAR MASSIVAMENTE






domingo, 14 de outubro de 2012

“É minha classe, a classe dos ricos, que conduz esta guerra e está ganhando” (publicado em L’Humanité, sexta-feira 5, sábado 6 e domingo 7 de outubro de 2012, p. 12.)


“É minha classe, a classe dos ricos, que conduz esta guerra e está ganhando”[1]
Por Gérard Maugé[2], sociólogo, diretor de pesquisa no CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica)
Há um problema novo, as classes dominantes saíram da sombra. Bernard Arnault[3] acaba por exemplo de dar sinal de vida ao público, fazendo aparecer a visibilidade de seu universo, extravagante para o comum dos mortais. Inversamente, assistimos a uma espécie de eclipse da classe trabalhadora, no universo da representação política com o declínio do PCF[4], e na cena cultural: o personagem que durante longo tempo encarnou a classe trabalhadora, o metalúrgico, foi substituído pelo boeuf[5], numa espécie de racismo de classe insuportável.
Desapareceram também as representações teóricas com o declínio da referência marxista no campo intelectual. Apesar de tudo, isso não significa o desaparecimento dos operários da cena francesa. Os trabalhadores representam 20% da população ativa. E se a gente soma os assalariados, fica mais de 50% da população ativa. O que quer dizer que metade da população ativa tornou-se invisível. Parte da explicação se encontra nessa espécie de vociferação de Warren Buffett, durante um tempo o homem mais rico do mundo. Ele dizia no canal CNN em 2005: “Há uma guerra de classes, isso é fato. Mas é a minha classe, a classe dos ricos, que está ganhando”. Se as classes populares tornaram-se invisíveis, é porque perderam.
Há uma distinção entre a classe teórica e a classe real, entre a condição de classe e a consciência de classe. A classe em si e a classe para si mesma. A classe em si se define, na perspectiva marxista, por seu lugar no processo de produção. Na perspectiva de Bourdieu que eu adoto e que se inscreve um pouco em ruptura com certos economistas marxistas, é a posição ocupada na distribuição do capital econômico mas também do capital cultural. Quanto à classe para si mesma, trta-se de um grupo capaz de se reconhecer numa identidade coletiva, capaz de se mobilizar pela defesa de interesses compartilhados e, na profecia marxista, para tornar real uma sociedade sem classe.
Na perspectiva de Bourdieu, as experiências que cada um tem na vida são da interiorização individual de um “habitus de classe”. Quer dizer de afetos (gosto ou não gosto...), expectativas (isso é para mim, isso não...). É uma relação com o mundo que se exprime numa maneira particular de falar ou de ser, numa afinidade de gostos, numa forma de sociabilidade. Esse habitus de classe é mais próximo de um inconsciente de classe do que de uma consciência de classe.
A visão marxista do espaço social dividido em classes antagônicas está ultrapassada na sociedade francesa contemporânea. Isso se faz sob o golpe da tese da “medianização” da sociedade francesa, da desfidelização (não há mais classe, senão indivíduos) e enfim da importância que ganharam as clivagens perpendiculares sobre as de classe: de gênero, de idade ou de raça.
E o que foi feito do voto de classe? 15% dos operários dizem ter confiança na esquerda, 7% na direita e 78% nem na esquerda nem na direita. Este resultado parece invalidar totalmente a hipótese de um voto de classe. Pode-se ver aí sobretudo os efeitos das múltiplas transformações do campo político que levam os que se estão mais distanciados a considerá-lo indistinguível.
Então o que fazer? Pode se tirar desse esboço de análise alguns ensinamentos para as lutas políticas, científicas ou midiáticas a serem travadas. É preciso primeiramente restituir ao critério de classe o lugar central que é seu numa representação científica do mundo social sem ignorar as outras clivagens. Em segundo lugar, é preciso reivindicar uma visão realista das classes populares na sociedade, sem cair no miserabilismo ou no populismo, mas com o cuidado de reconquistar uma visibilidade que corresponde a um grupo numericamente majoritário e de reabilitar um grupo economicamente e politicamente desqualificado. Enfim, é preciso reconstruir uma representação política, quer dizer, uma expressão e uma organização na qual as classes populares possam se reconhecer.

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[1] Publicado em L’Humanité, sexta-feira 5, sábado 6 e domingo 7 de outubro de 2012, p. 12.
[2] Última publicação do autor, com Frédéric Lebaron, Lecture de Bourdieu, éditions Ellipses, 2012, 400 páginas, € 27,40.
[3] Atual presidente e diretor executivo da LVMH Moët Hennessy, Louis Vuitton S.A. Ou simplesmente LVMH, é uma holding francesa especializada em artigos de luxo. Foi formado pelas fusões dos grupos Moët et Chandon e Hennessy e, posteriormente, do grupo resultante com a Louis Vuitton (fonte: Wikipédia).
[4] Partido Comunista Francês
[5] Beauf [pronunciado / bof /] é um termo francês que descreve uma pessoa que é uma combinação de vulgar, sofisticada, inteligente, arrogante, insensível e chauvinista, sem qualquer gosto pela etiqueta ou boas maneiras. Um "beauf" está sempre pronto para tirar conclusões precipitadas e ter ideias prontas sobre questões sociais complexas, com base em uma análise insuficiente dos fatos, mas apresentado como sendo de senso comum (fonte: Wikipédia).